Subitamente, ruídos surdos.
Vestiam-se de tons crus e torturavam-te em segundos. Um relógio sem ponteiros.
Eles reclamavam da tua consciência.
“É uma nova terapia, Senhor. Nada mais.”
Mas todos os dias enfeitavam-te com fios eléctricos.
Não podias fugir, enjaulado por batimentos que não eram teus.
Veio uma tempestade, então.
Abriste os olhos, sentiste o vento, que te flagelava a pele e ensanguentava as costas.
E acima desses ruídos, conseguias perceber vozes que te maltratavam.
“Apenas uma nova terapia, Senhor. Nada mais.”
As terapias e tu, no tempo, enjaulado.
Sentias apenas a tempestade abraçar-te com as suas presas nesse loop perpétuo.
Raquel Fontão