Terapia, por Raquel Fontão

Subitamente, ruídos surdos.

Vestiam-se de tons crus e torturavam-te em segundos. Um relógio sem ponteiros.

Eles reclamavam da tua consciência.

“É uma nova terapia, Senhor. Nada mais.”

Mas todos os dias enfeitavam-te com fios eléctricos.

Não podias fugir, enjaulado por batimentos que não eram teus.

Veio uma tempestade, então.

Abriste os olhos, sentiste o vento, que te flagelava a pele e ensanguentava as costas.

E acima desses ruídos, conseguias perceber vozes que te maltratavam.

“Apenas uma nova terapia, Senhor. Nada mais.”

As terapias e tu, no tempo, enjaulado.

Sentias apenas a tempestade abraçar-te com as suas presas nesse loop perpétuo.

 

Raquel Fontão

Raquel Fontão

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